2 de julho de 2014

          Chegou ao fim a primeira etapa de mata-mata da Copa do Mundo no Brasil: as oitavas de final. 16 seleções brigaram pela chance de avançar à próxima fase, e metade delas ficaram pelo caminho enquanto o grupo de candidatas para o título fica cada vez mais seleto. Se por um lado a fase de grupos foi um festival de gols - somando 136 em 48 partidas - por outro, balançar as redes na primeira fase eliminatória do mundial está sendo muito menos frequente; foram 18 gols em 8 jogos disputados (excluindo disputas de pênaltis). Não há mais goleadas ou abismos em relação às performances, nem mesmo quando a seleção historicamente superior enfrenta uma de nível inferior. Essa edição do mundial comprova a suspeita de que não há mais bobos no futebol, e quem não alcança a classificação pode no mínimo voltar para casa orgulhoso.
          Todos os líderes de seus grupos se classificaram para as quartas de final, mas muitos deles chegaram perto da eliminação - ou pelo menos sofreram bastante para conseguir sua vaga. Dos 8 duelos, 5 foram para a prorrogação e 2 deles para a disputa de pênaltis. Equilíbrio foi a marca registrada das oitavas de final, que teve 7 de seus 8 jogos terminando o primeiro tempo empatados, sendo 6 deles por 0x0. Confira abaixo um resumo de cada um dos jogos e uma lista atualizada da artilharia e do líder de assistências.

Artilharia: James Rodríguez (COL): 5 gols
Assistências: Cuadrado (COL): 4 assistências

Brasil 1x1 Chile 
A seleção anfitriã da Copa quase foi eliminada ao enfrentar o Chile, "freguês histórico", no Mineirão. Superioridade brasileira somente no apelido provocativo, porque foi muito diferente o que se viu em campo. O Brasil procurava criar pela esquerda, onde estavam Marcelo, Hulk - que participou bastante durante todo o jogo - e Neymar, enquanto o Chile marcava adiantado e tentava se aproveitar das várias vezes em que a saída de bola brasileira falhava. Os donos da casa abriram o placar aos 18 minutos, e já havia um empate aos 32. Depois disso, a rede só balançaria de novo na disputa de pênaltis, após um segundo tempo e prorrogação sem gols. Julio Cesar brilhou ao pegar duas cobranças e contou com a ajuda da trave para empurrar o Brasil para as quartas; 3-2 nos pênaltis. Méritos para o Chile, que fez um pentacampeão mundial sofrer (muito) em suas mãos. A seleção de Felipão tem muito a fazer caso sonhe em passar da consistente Colômbia.

Colômbia 2x0 Uruguai
O Uruguai tinha dois possíveis desfechos após a expulsão de Luis Suárez da Copa: se abastecer das dificuldades e brilhar, ou sofrer o impacto da enorme ausência do craque. Buscaram bolas paradas e contra-ataques durante toda a partida, sem obter sucesso; com Forlán no lugar de Suárez, o Uruguai perdeu muito no quesito velocidade e as bolas lançadas eram inefetivas. A Colômbia, que nada tinha a ver com isso, controlou o jogo e contou com a ajuda de seu artilheiro James Rodríguez para balançar a rede duas vezes. O jovem jogador de apenas 22 anos soma agora 5 gols e 2 assistências em 4 jogos do campeonato mundial; uma verdadeira estreia de gala. Falcao quem?

Holanda 2x1 México
A Holanda teve 53% de posse de bola no primeiro tempo, porém somente duas finalizações. O México, como de costume, tentava pelas laterais. No segundo tempo, Giovani dos Santos abriu o placar logo no começo, e o jogo mudou. Com os dois técnicos fazendo alterações que mudaram significativamente o comportamento de seus times em campo, o jogo era outro; e isso foi confirmado pelo aumento no número de finalizações, que passou para 14 (Holanda) contra 12 (México). O goleiro mexicano Ochoa vinha novamente fazendo a diferença. Porém, a proposta mais defensiva da seleção de Miguel Herrera falhou quando Sneijder foi deixado livre para pegar um rebote na área e encher o pé, empatando para a seleção europeia. Aos 90 minutos, após um penalti "marcável" sobre Robben, Huntelaar decretou a classificação dos holandeses.

Costa Rica 1x1 Grécia
A Costa Rica - primeira colocada do grupo da morte que contava com Uruguai, Itália e Inglaterra - não teve vida fácil contra a Grécia. A proposta de avançar a última linha de defesa para pressionar a saída de bola grega se converteu em um fardo ao invés de um fator positivo, diante dos vários lançamentos, inversões de bola e cruzamentos que a seleção europeia realizava. No início do segundo tempo, a Costa Rica contou com o gol de Brian Ruiz para proporcionar um leve alívio e encaminhar a classificação, que a partir da expulsão de Duarte parecia cada vez mais ameaçada, em grande parte devido à incansável entrega grega. Entrega essa que garantiu, aos 90 minutos, o gol de empate que proporcionaria prorrogação e pênaltis. A única cobrança "perdida" foi a de Gekas, que o goleiro costarriquenho defendeu, garantindo sua seleção nas quartas. A Grécia totalizou 40 cruzamentos durante a partida e 24 finalizações; foram eliminados, mas morreram lutando.

França 2x0 Nigéria
A França pecou um pouco no aspecto defensivo, não realizando marcação avançada e com Matuidi ocupado em tentar fechar o meio e ajudar Evra. De vez em quando, deixava espaços e permitiam a movimentação do quarteto ofensivo nigeriano; no primeiro tempo, a Nigéria finalizou 5 vezes, sendo 4 no gol. Quando Griezmann entrou no lugar de Giroud, aos 62 minutos, os franceses sofreram uma significativa melhora na organização e movimentação, e o atacante Benzema começou a aparecer. Com a saída do lesionado Reuben, o poder defensivo da Nigéria decaiu, e aos 79 minutos Pogba abriu o placar para a França. Com o placar ainda aberto e chances para prorrogação, os nigerianos procuravam o empate, mas na marca dos 90 o zagueiro Yobo fez contra e presenteou os franceses com uma vaga na próxima fase do mundial.

Alemanha 2x1 Argélia
Dentre as últimas 17 Copas, a Alemanha só não esteve nas quartas de final em uma edição (1938). No confronto contra a Argélia válido pelas oitavas de final aqui no Brasil, os alemães tiveram esse histórico seriamente ameaçado, considerando que o time africano não se intimidou com os tricampeões mundiais e veio a campo com a mentalidade que somente a vitória interessava. Com um jogo muito rápido e dinâmico diante de uma defesa alemã lenta - principalmente devido à ausência de Hummels e escalação de Mustafi em seu lugar - a Argélia foi o melhor time em campo e quase conseguiu uma vaga nas quartas diante da poderosa seleção de Joachim Löw. O primeiro gol da partida saiu somente na prorrogação, aos 92 minutos, com Schürrle tirando um pouco do peso das costas da Alemanha. Özil marcou o segundo aos 120, mas a Argélia lutou até o final e conseguiu balançar as redes de Neuer para fechar o placar. Exibição heróica e honrosa dos argelinos, do começo ao final da partida.

Argentina 1x0 Suíça
A seleção da Argentina, que muito prometia antes do mundial, ainda não conseguiu convencer. Passando com certa dificuldade - apesar de três vitórias - em um grupo com Bósnia, Nigéria e Irã, os argentinos ainda estão devendo e seguiram contando mais com o destino do que com juízo ao enfrentar a Suíça. Sem conseguir abrir o placar antes do segundo tempo da prorrogação, ficaram a menos de três minutos de precisar decidir o jogo em cobranças de pênalti. Messi - apagado e tendo somente momentos de lampejo no mundial - deu passe decisivo à Di María, que aos 118 fez o gol que livrou a Argentina de precisar depender da sorte para passar às quartas de final. Sorte essa que apareceu no último lance de jogo, quando um jogador suíço acertou a trave numa cabeçada que poderia ter-lhes colocado de volta no jogo.

Bélgica 2x1 Estados Unidos
A última vaga para as quartas de final foi disputada entre a sensação belga, muito bem tática e técnicamente, e os norteamericanos liderados por Klinsmann. Foram 90 minutos de intensidade, entrega e futebol bonito, sem faltas desleais ou apelos ao juíz; as duas seleções só queriam jogar futebol. Apesar do alto nível e ritmo da partida, nenhum gol foi marcado no tempo normal, mesmo com o enorme número de chances. Foram 38 finalizações da Bélgica e o goleiro americano Tim Howard - homem do jogo - realizou 16 defesas no total, sendo consagrado como herói americano independente da eliminação. A partida foi à prorrogação, e aos 3 minutos Kevin de Bruyne abriu o placar para a Bélgica; Lukaku aumentou aos 105. A raça americana intimidou os belgas, e Julian Green descontou para os Estados Unidos no começo do segundo tempo da prorrogação. Pressão até o final, e uma cobrança de falta ensaiada quase empatou o jogo antes do apito final colocar a Bélgica nas quartas de final. Indiscutivelmente, um dos melhores - senão o melhor - jogos do mundial até aqui.

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